segunda-feira, 31 de março de 2014


Apollo 13, a Odisséia dos Homens sem Medo e o toque da Química 

Quando recebo dos meus alunos, nos dias de hoje, perguntas do tipo: para que quero isso? para que vejo isso? para que estudo isso? lembro-me deste acidente. Nunca na história vi um exemplo melhor do que este para mostrá-los a importância de todas as matérias que aprendem. Saber a língua da mãe Pátria (o Português) é comunicação; Física, a trajetória, a força; Química, materiais da nave que suportaram temperaturas acima de 2000 graus, o hidróxido de lítio que reduziu o consumo do gás carbônico no interior do módulo espacial; História, haja vista que se não fossem a análise, o estudo e a observação dos acontecimentos anteriores a este, sem os quais os técnicos da NASA não colecionariam uma bagagem técnica extraordinária para criarem novas soluções; Geografia, que os ajudou a se localizarem no espaço, dando assim um Norte para o comando em terra; Desenho, que mostrou como reduzir proporcionalmente, com o material disponível, o espaço para os objetos; Matemática, que com sua linguagem numérica pôde unir tantos dados e dar uma segurança fenomenal aos engenheiros; Biologia, que no seu domínio sobre a natureza humana, pôde dar a aqueles homens um treinamento adequado, como autocontrole, capacidade de consumo de oxigênio e tantas outras matéria que estão sublocadas nestas que acabo de citar, dentro do meu pequeno conhecimento. Tudo começou em:

                                                22 de abril de 1970
A bola de fogo riscou o céu a quase 40.000 quilômetros por hora.
Mas foi contida violentamente pelo formidável atrito com o ar e, a 3.000 metros de altura, três grandes pára-quedas de gomos vermelhos e laranja conseguiram transportá-la suavemente, até o oceano Pacífico.

O pouso tranqüilo da nave Odisséia, às 3 horas e 8 minutos da tarde de sexta-feira, em Osaka, no Japão, Buenos Aires, Argentina, e pelos sinos das igrejas de Gallup, Novo México (EUA). A Bolsa de Valores em Nova York parou e uma chuva de papel picado enfeitou o ar. Durante 83 horas, os perigos que os tripulantes da nave - agora flutuando sem bandeira nas águas também mansas do Pacífico - viveram perto de outros mundos conseguiram unir, nas orações e manifestações de solidariedade, quase todos os homens da Terra.

Centenas de milhões de pessoas, em todo o mundo, interromperam suas atividades para assistirem, pela televisão, à operação de resgate feita por helicópteros da Marinha americana.
 
Em Viena, os políticos que procuravam formar o novo governo austríaco de coalizão abandonaram as conversações; o primeiro-ministro britânico Harold Wilson cancelou um discurso em Dalington;
Mas a emoção de toda a humanidade reunida não foi suficiente para ser transferida aos astronautas James Lovell, Fred Haise e John Swigert que não mostraram nenhuma emoção. Mesmo no porta-helicópteros Iwo Jima, as únicas reações foram sorrisos e acenos discretos. Nem uma palavra diante do amontoado de microfones instalados no navio. Apenas apertaram a mão do comandante, ouviram seus elogios e acompanharam o capelão numa oração de agradecimento. Em seguida, nove médicos examinaram os astronautas: o mecanismo humano estava perfeito, física e mentalmente. Todos os incríveis perigos pelos quais passaram não os perturbaram. Lovell, Haise e Swigert haviam sido bem treinados para sua profissão: o perigo.

Lovell: "Hey, Houston, temos um problema aqui." Foi a frase famosa.
Houston: " Aqui, Houston. Repita, por favor, Jim."
Lovell: "Temos problemas. Há várias luzes de advertência acesas no painel de comando. Parece falha no sistema elétrico."
Houston: "Leiam o capítulo "Urgência", páginas rosadas, de 1 a 5. Reduzam o consumo de energia."
Lovell: "OK, anotado. Estou com o livro. Você quer dizer redução até 10 ampères, não?"

Houston: "Certo, Jim. O que você acha que houve?"
Lovell: "Ainda não sei. Ouvimos um barulho forte no MS (módulo de serviço)."
Houston: "Suspendam o funcionamento de todos os comandos possíveis. Troquem as conexões elétricas entre os geradores e informem os resultados."
Lovell: "A unidade de combustível número 3 deixou de funcionar. O oxigênio na cabina está escapando."
Swigert: "A linha elétrica B (principal) está morta. A célula de combustível número 1 e o compressor também estão com problemas."
Houston: "Parece que vocês estão perdendo oxigênio do gerador número 3. Fechem a válvula de combustível do número 3."
Haise: "A nave está oscilando. Não posso controlá-la. A pressão do oxigênio na cabina continua diminuindo."
Houston: "Liguem a bateria de emergência. Estamos estudando a possibilidade de vocês usarem o ML (módulo lunar) como bote salva-vidas."
Lovell: "Já pensamos nisso. E começamos a colocar em funcionamento o ML."

Houston: "OK, fim. Seus três geradores de energia estão parados. Restam apenas quinze minutos de energia elétrica no MC (módulo de comando). Passem para o ML e utilizem seus sistemas. Desliguem os sistemas do MC."
Lovell: "OK, Houston, agora estamos indo para o bote salva-vidas."
Houston: "Certo, fim. Começa a Era do Aquário (denominação do módulo lunar, o bote salva-vidas)."
Às 2h13 (Brasília) é cancelada a descida na Lua e são iniciados os planos para trazer os astronautas de volta à Terra na sexta-feira.

O engenheiro mostrando a no rota da Apollo.
O 13 dá azar? - Até surgirem os problemas, ninguém se preocupava com os três homens lá em cima. As minorias fanáticas por assuntos técnicos também estavam tranqüilas: haviam assistido a um show de variedades espaciais transmitido em cores por algumas estações de televisão (as principais redes dos Estados Unidos não o transmitiram por considerá-lo rotineiro). Quando terminou o show lunar, os familiares ergueram brindes ao sucesso da expedição e os técnicos enviaram felicitações formais aos protagonistas, seguidas de nova tarefa: observar o cometa Bennett e se possível fotografá-lo.
Imediatamente após o show, o drama e as risadas foram apagados pela apreensão. Seria a fatalidade? Preocupada com a grandeza sideral, a elite da Nasa não se deixa levar por crenças tão terrenas. E conseguiu provar (hoje a opinião pública mundial considera o retorno da Apollo 13 um sucesso maior até que a conquista da Lua) quê o número 13, afinal, não merece a sua fama.
Mas, no dia 6 de abril, um dos astronautas da equipe de reserva da Apollo 13 apareceu com rubéola. Thomas K. Mattingly 11, 34 anos, que seria o piloto do módulo de comando. Estaria Swigert, piloto reserva, capacitado a substituí-lo? A dúvida manteve o lançamento em suspenso até 24 horas antes do momento previsto. Mas Swigert foi aprovado e Mattingly assistiu zangado à saída da Apoio 13. 
Enquanto uma série de problemas eram resolvidos, os encarregados do lançamento descobriram um súbito aumento de pressão do gás hélio (nos tanques de combustível é esse gás que dá a pressão necessária). Essa dificuldade também foi resolvida e o foguete partiu, para comunicar minutos depois que o motor número 5 do segundo estágio deixara de funcionar antes da hora determinada.
Todos esses problemas em nada alteraram a fria segurança dos técnicos da NASA. Nos astronautas, experientes pilotos de provas acostumados a deixarem o medo em terra, também não provocaram qualquer efeito. 
Na Lua, sem descer - A equipe da Apoio 13 só poderia reagir como reagiu: de maneira serena, eficiente, rápida. Surpreendida pelo desastre na viagem de ida, não mostrou medo. Os astronautas apenas sentiram decepção por não poderem levar sua missão até o fim. Mantendo uma troca intermitente de informações técnicas, tomaram as primeiras providências com absoluta precisão. Sabiam que do ponto onde estavam, mais próximo da Lua que da Terra, teriam de continuar em direção ao satélite natural e contorná-lo, por uma razão muito simples: quando um garoto vem correndo e quer voltar também correndo, sabe que basta contornar um poste com a ajuda do braço - com isso não perde o impulso inicial. E foi o que fizeram. Contornaram a Lua e ligaram os motores para impedir que entrassem em órbita lunar.
Mesmo com as reservas de água, oxigênio e eletricidade se extinguindo, enquanto o ambiente do módulo lunar tornava-se cada vez mais contaminado pelo dióxido de carbono, os astronautas não perderam o "senso de humor americano". 
O módulo de comando transformado em dormitório, enquanto o Aquário encarregava-se de aproximar-se da Terra, estava gelado porque todos os seus sistemas foram desligados e mantidos em reserva. Mas nem o frio intenso os impedia de dormir. Na quinta-feira, penúltimo dia da perigosa aventura, o moral continuava alto. 

Na cena do filme, vemos a redução do volume do filtro para caber na capsula onde os astronautas ficariam até o pouso no Pacífico.
Ao lado, o defeito - Na sexta-feira pela manhã, os astronautas preparavam-se para fazer a última correção na rota. As instruções de Houston e as respostas de Lovell continuaram atravessando o espaço no mesmo tom de voz monótono e arrastado. Em condições normais, a nave poderia corrigir seu rumo quantas vezes fosse necessário, mas agora a energia esgotada do módulo de comando tinha de ser poupada tanto quanto o próprio ar que os tripulantes respiravam. 

  O filtro de dióxido de carbono improvisado pelos engenheiros da NASA.
O esgotamento das baterias ou um erro de cálculo poderiam significar uma viagem sem fim pelo espaço. As 9h53 (Brasília) Lovell ligou os motores do Aquário. Durante 23 segundos, os três homens praticamente prenderam a respiração, preocupados em observar a Lua e as estrelas que tomaram como pontos de referência. 
O funcionamento dos motores diminuiu a velocidade da nave em 3 quilômetros por hora, deixando-a em condições de reingressar na atmosfera com um impacto ideal. Finalmente, de Houston veio a voz tranqüilizante: Houston: "OK. Bom trabalho."

Este foi o filtro de dióxido de carbono improvisado montado.
A Terra, azul, parecia agora. mais próxima e acolhedora do que nunca, apesar dos 57.000 quilômetros a serem ainda percorridos. Velocidade da Odisséia: 9.900 quilômetros por hora.
10 horas. A contemplação é interrompida por nova ordem:
Houston: "Podem soltar o módulo de serviço quando estiverem prontos. Não há pressa. Quando quiserem."
Lovell: "OK. Parece tudo bem... aqui vai o MS."
Os motores do ML foram ligados para o desengate. Simultaneamente, Swigert, na nave de comando, acionou os grampos explosivos que prendiam o MS à Odisséia.
Houston: "Uma beleza, uma beleza. Muito bem. Desprendeu sem problema."
Ao passarem ao lado do módulo abandonado, os astronautas puderam finalmente ver a extensão do desastre sofrido.

O dano na parte lateral visto pelos astronautas.
Lovell: "Está faltando um lado inteiro dessa nave. Olhem só isso! Espere, um minuto. Bem ao lado da antena principal, um painel inteiro de 7 metros saltou fora, quase desde a base do motor."
Houston (impassível): "Anotado."
Lovell: "Parece que o motor principal também foi atingido."
Houston: "Vocês podem ver o motor pelo buraco?"
Lovell: "Do jeito que está, parece apenas uma faixa marrom escura. Está tudo arrebentado."
Houston: "Tirem fotos. Mas não façam manobras desnecessárias. E, Jim, especialmente, não queremos manobras de translação."
Com as fotos, os cientistas da NASA tentarão descobrir a causa da explosão dos tanques de combustível. As 13h43 (Brasília), a última operação foi ordenada de Houston: o desligamento do fiel Aquário.
A Terra em festa - As últimas manobras no espaço já não deixavam, na Terra, nenhuma dúvida: a Odisséia chegaria bem. Às 13h43, quando os três tripulantes já estavam instalados na nave de comando, depois de terem fechado o túnel de ligação com o ML, ela se movia a mais de 20.000 quilômetros por hora. Apenas 24 minutos a separavam do pouso no oceano Pacífico. Finalmente, o ML foi também desligado. Ao se lançarem no espaço, abandonados às forças naturais do planeta, Lovell deixou escapar a única frase carregada de emoção. Era uma espécie de gratidão expressada por um homem-quase-máquina à máquina que, a seus olhos, se tornara quase humana: "Adeus, Aquário. E muito obrigado".
Os extraordinários navegantes estavam no fim da sua aventura.

A vibração na sala de comando aqui na terra.
Terminava a principal missão dos tripulantes da Apollo, que não é científica mas sim a de testar a astronave na prática. Trouxeram desta viagem uma conclusão: os desenhistas do projeto não deixaram nada à sorte. A nave tem 56 motores, cada um com duas partidas. Necessitam somente de uma, mas previram duas para aumentar a segurança. Cada motor de partida com dois sistemas de ignição. E os fios que saem das baterias foram dispostos de modo que, mesmo falhando as baterias, ou os interruptores, ou os motores, o conjunto todo não pode deixar de funcionar. O sistema de propulsão da Apollo não admite falhas. Há nele tanta peça em duplicata, que até mesmo os dispositivos de emergência são providos de seus próprios dispositivos de emergência. É infalível. Só mostrou um defeito: falhou.

Se na missão houvesse cientistas e não pilotos de provas, o vôo fracassaria. Para ir à Lua, ainda não chegou o tempo dos homens normais.

FONTE DOS TEXTOS
 Vejaabril.com.br
Professor Eudo Robson

FONTE DAS IMAGENS
FILME APOLLO 13
TessaracTstudio  
 www.space.com  
cafehollanderquiz.blogspot.com
www.nbcnews.com
medoffj.edublogs.org 
workingsmartecafe.kronos.com 
www.kinocinema.net
www.spacefacts de


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