Os venenos
de animais, que são tão perigosos aos humanos, são ricos em proteínas e frações
de peptídeos, e quando entram no organismo tentam achar as células-alvo
impedindo a coagulação sanguínea ou bloqueando as funções das células nervosas.
Esse vilão, entretanto, com a intervenção da ciência, pode ser usado em favor
de nossa saúde.
A Food and Drug Administration dos
EUA (FDA) é um órgão do governo americano responsável pelo controle dos
alimentos, tanto de consumo humano quanto de animal, suplementos alimentares,
cosméticos, equipamentos médicos e medicamentos (humano e animal).
A FDA
também fiscaliza todas as substâncias que pretendem entrar para o mercado, e
testam e estudam o material antes de liberar a sua comercialização. Há 30 anos,
a FDA aprovou uma droga, que é um veneno derivado de uma cobra, chamado Capoten, destinado à terapia de pessoas
hipertensivas.
Muitas
drogas derivadas de veneno já foram aprovadas e comercializadas para o
tratamento de doenças cardiovasculares.Toxinas que auxiliam no tratamento de
doenças autoimunes.
O desafio da Ciência neste momento é criar, a partir de venenos, uma droga que
trate a dor crônica, e doenças autoimunes tais como esclerose múltipla e
artrite reumatoide.
Glenn King, biólogo molecular e pesquisador de venenos de aranhas da Universidade de Queensland, em Brisbane, na Austrália, mostrou-se muito otimista em relação à nova pesquisa:
Glenn King, biólogo molecular e pesquisador de venenos de aranhas da Universidade de Queensland, em Brisbane, na Austrália, mostrou-se muito otimista em relação à nova pesquisa:
“Nós estamos realmente no início de algo
emocionante, e vai ficar melhor ao longo da próxima década”, prevê King em uma
entrevista à The Scientist.
A Anêmona-Sol (Stichodactyla helianthus) possui um
tipo de veneno muito interessante aos olhos dos cientistas. Essa espécie de
anêmona marinha vive nos recifes do Caribe e usa seus tentáculos verdes (também
podem ser amarelados) e tóxicos para atrair suas presas.
Segundo uma pesquisa realizada na década de 90, uma dessas toxinas, presentes
em seus tentáculos, um peptídeo chamado SHK, é um potente inibidor de um canal
de potássio de linfócitos T chamado Kv1.3.
A regulação desse linfócito implica
diretamente no desenvolvimento de doenças auto-imunes, isto é, o SHK poderia
evitar o aparecimento dessas doenças.
Sendo assim, os cientistas tentam de
alguma forma desenvolver uma substância terapêutica com base no SHK. Christine
Beenton, bióloga molecular do Baylor College of Medicine, argumenta que o SHK é
muito potente como um inibidor do linfócito Kv1.3, mas ao mesmo tempo ele
bloqueia canais importantes encontrados nos neurônios.
“Você não vai querer
injetar [o SHK] em seres humanos, sabendo que isso poderia bloquear os
neurônios, e não saber o que se poderia fazer para reverter”, diz Beenton.
A bióloga estudou toda a estrutura do SHK e testou cerca de 400 tipos
diferentes de derivados sintéticos deste composto. Ela e a equipe incluíram
elementos que tivessem a função de não bloquear os canais de células ligadas
aos neurônios.
Elaborou-se assim, o SHK-186, o número 186 indica a sua versão,
um composto que elimina qualquer efeito colateral previsto.
Em roedores diagnosticados com esclerose múltipla, o SHK-186 foi utilizado como terapia, e comprovou-se que a droga consegue reverter à paralisia gerada pela doença. “Nós vimos à doença ir embora quase que completamente.
Em roedores diagnosticados com esclerose múltipla, o SHK-186 foi utilizado como terapia, e comprovou-se que a droga consegue reverter à paralisia gerada pela doença. “Nós vimos à doença ir embora quase que completamente.
E o importante é que a droga não
bloqueia o sistema imunológico, já que os animais tratados ainda conseguiram
combater a clamídia e a gripe”, diz a bióloga.
A equipe se animou ainda mais quando o primeiro teste em humanos saudáveis foi
feito com o SHK-186. Embora os resultados ainda não tenham sido divulgados
oficialmente, Beenton contou que todos estavam “muito felizes com os
resultados”.
A SHK-186
tem tudo para ser uma grande promessa no tratamento de doenças-autoimunes. É o
que afirma o biólogo Glenn King: “O SHK é um dos exemplos mais interessantes
[de drogas derivadas de venenos] no momento. Se for aprovado, as implicações
serão profundas”.
ShK-186
and ShK-192 reduce disease severity in chronic relapsing-remitting experimental
autoimmune encephalomyelitis in DA rats. A, Effect of vehicle-, ShK186- and
ShK-192-treatment in rats with CR-EAE. ShK-186 and ShK-192 were administered by
once daily subcutaneous injections, both at 100 m g/kg/day. Treatment was
started at the onset of disease (clinical score 1⁄4 1) Cumulative p value from
repeated-measures two-tailed ANOVA for both ShK-186 and ShK-192 is p < 0.001.
B, Effect of treatment with ShK-192 at 100 and 1 m g/kg/day in rats with CR-EAE
(cumulative p < 0.001). Clinical scores : 0.5 1⁄4 distal tail limp; 1 1⁄4
loss of
Fonte: https://www.researchgate.net
Toxinas que auxiliam
no tratamento da dor crônica.
Tudo indica que um novo
veneno derivado possa virar analgésico também. Os pesquisadores do Centro
Nacional de Pesquisa Científica (CRNs), de Paris, anunciaram a descoberta de
dois peptídeos isolados da Mamba-Negra (Dendroaspis polylepis), umas das cobras
mais venenosas do mundo.
Essa espécie de cobra,
encontrada geralmente no continente africano, mede aproximadamente entre 2,5
metros a 4,5 metros, e recebe esse nome não devido a coloração de seu corpo, já
que ela aparenta ser cinza, e sim porque o interior de sua boca é visivelmente
negra, quando ela escancara a boca em sinal de ameaça. Seu veneno, considerado
neurotóxico, causa paralisia, podendo levar a vítima ao óbito em apenas 20
minutos se não for tratada rapidamente. Sem tratamento, 100% dos casos das
pessoas picadas morrem.
Os peptídeos encontrados no veneno da Mamba-Negra podem bloquear os canais de
neurônios onde há íons que desempenham a função de enviar os sinais de dor ao
cérebro. Em camundongos, seus efeitos são tão poderosos quanto à morfina.
No momento, os
pesquisadores trabalham na elaboração de um analgésico com base no veneno desta
cobra para tratar as dores crônicas que acometem muitas pessoas todos os dias.
O veneno de outra espécie de cobra está sendo estudado, e um peptídeo analgésico
está sendo desenvolvido a partir do veneno da Cobra-Real (Ophiophagus hannah).
O trabalho está sendo feito pela empresa Theralpha.
A Cobra-Real é outra espécie que entra para a lista
das mais perigosas do mundo. Esta, no entanto, é considerada a top de todas, é
a mais venenosa que existe. Este animal pode chegar a medir 6 metros de
comprimento, e em apenas uma mordida ele libera até sete mililitros de
neurotoxina, que são suficientes para matar um elefante.
O que se sabe até agora em relação ao peptídeo desenvolvido a partir do veneno da Cobra-Real, é que ele tem demonstrado efeitos muito potentes, mais até do que a morfina, e poderia ser tomado via oral, e não necessariamente necessitaria ser injetado na corrente sanguínea.
Manjunatha Kini, da Universidade Nacional de Cingapura, que estudou o peptídeo, diz que a substância é tão potente que em poucos minutos ela já está na corrente sanguínea: “Nós deixamos cair uma solução [do peptídeo] sob a língua do animal e em poucos minutos ela está no sangue”.
Diversas equipes de cientistas pelo mundo estão engajadas em descobrir uma terapia eficaz, e por que não definitiva, para a dor crônica. Enquanto uns pesquisam venenos de cobras, e anêmonas, outros desenvolvem terapêuticos baseados em moluscos e aranhas.
“Há milhares de venenos que sequer olhamos ainda. Dessa forma, temos milhões de moléculas que são drogas potenciais ainda a serem exploradas”.
O que se sabe até agora em relação ao peptídeo desenvolvido a partir do veneno da Cobra-Real, é que ele tem demonstrado efeitos muito potentes, mais até do que a morfina, e poderia ser tomado via oral, e não necessariamente necessitaria ser injetado na corrente sanguínea.
Manjunatha Kini, da Universidade Nacional de Cingapura, que estudou o peptídeo, diz que a substância é tão potente que em poucos minutos ela já está na corrente sanguínea: “Nós deixamos cair uma solução [do peptídeo] sob a língua do animal e em poucos minutos ela está no sangue”.
Diversas equipes de cientistas pelo mundo estão engajadas em descobrir uma terapia eficaz, e por que não definitiva, para a dor crônica. Enquanto uns pesquisam venenos de cobras, e anêmonas, outros desenvolvem terapêuticos baseados em moluscos e aranhas.
“Há milhares de venenos que sequer olhamos ainda. Dessa forma, temos milhões de moléculas que são drogas potenciais ainda a serem exploradas”.
Pelo Prof. Eudo Robson
Este artigo encontra-se disponível para dowloald gratuito e em PDF no site:
www.universodaquimica.com
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